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Jornalismo tradicional raiz abre espaço para outras oportunidades

A MORTE DO JORNALISMO TRADICIONAL

Já faz algum tempo que o jornalismo tradicional acabou. E os jornalistas de raiz abriram caminho para outros profissionais. A boa notícia é que ainda dá tempo para recuperar o espaço e o tempo perdidos.

Em 2019, após atuar por mais de 20 anos em uma empresa global, resolvi tocar meu próprio negócio. Enquanto não me decidia qual o meu rumo, resolvi pesquisar o mundo dos trabalhos de freelas, já que sou jornalista de formação. Após quase 6 meses de buscas, conversas, cursos, workshops e seminários, percebi que o mundo do jornalismo tradicional estagnou no tempo.

Uma exemplo dessa jornada foi a Primeira Edição do Digitalista 2019 (deixo aqui o link do site: http://www.digitalista.com.br), encontro anual idealizado pelo jornalista Almir Rizzatto, que atualmente toca a sua própria agência e é proprietário da Escola Digitalista, especializada em cursos de Marketing Digital para Jornalistas. O seminário apresentou as principais mudanças na profissão com a crescente força da internet e das redes sociais. E os palestrantes reforçaram que a era digital abre oportunidades fantásticas para os jornalistas tradicionais dispostos a encarar uma guinada na forma de atuação.

Participei de alguns treinamentos e encontros que seguem essa mesma abordagem e tenho notado um comportamento típico dos jornalista. Ontem comprovei que realmente a reação segue um roteiro que pode ser dividido em 5 atos.

Kátia Marim Treviso, durante o evento Digitalista, segurando o crachá de identificação. Revisão do atuação do jornalista tradicional
No Digitalista 2019, vários profissionais – entre eles a autora desse artigo – puderam reavaliar o futuro da profissão e as várias oportunidades possíveis

Primeiro ato: lamúria coletiva

No começo desses encontros, os jornalistas tradicionais veteranos e os recém-formados (sim, os recém-formados vivem uma nostalgia do que não viveram) relatam como a profissão está ingrata, insustentável e deprimente. As reclamações mais repetidas são:

  1. Ninguém quer mais textos longos e de qualidade;
  2. O jornalista para sobreviver precisa se prostituir;
  3. É injusto ver tanto material bom sendo dispensado pelos veículos de comunicação;
  4. As redações estão enxutas, cada dia trabalho mais e ganho menos;
  5. Preciso competir com pessoas que não sabem escrever nem o básico, mas que estão “bombando” nas redes sociais;
  6. Meu cliente prefere LIKES a ter sua marca bem trabalhada;
  7. Eu sou jornalista raiz e não gosto das redes sociais;
  8. Acho que trabalhar com Influenciadores não é para mim;
  9. Oi… falar de Resultados, Métricas, mas isso não é jornalismo.

Para completar a catarse, ouvem-se histórias sobre fechamento de redações, enxugamento de assessorias de imprensa poderosas, profissionais de outras áreas atuando como jornalistas e tirando os empregos dos colegas. Enfim, um quadro triste e sem perspectivas.

Segundo ato: o soco no estômago

Depois desse momento de terapia em grupo, a programação do Digitalista (como também acontece em outros cursos e treinamentos) levou os jornalistas a uma avaliação realista da evolução da profissão durante as duas últimas décadas. E a conclusão dos participantes é que fomos nós mesmos quem abrimos as portas para publicitários, administradores, programadores entre outros assumirem os lugares vagos na criação de conteúdo.

“Fomos nós mesmos quem abrimos as portas para publicitários, administradores, programadores entre outros assumirem os lugares vagos na criação de conteúdo”

A reação física é sempre a mesma. Observei diversos participantes se remexendo nas cadeiras, cochichando com o colega ao lado ou confirmando a realidade com a cabeça. E no café, entre um painel e outro, o que eu mais ouvi foram frases com a mesma ideia:

“Ao aceitar as mudanças, as redes sociais com seus influencers e creators, é enterrar o jornalismo raiz. É negar a profissão que escolhemos”.

É um sentimento compartilhado entre muitos profissionais e de todas as áreas do jornalismo: TV, rádio, impresso, assessoria de imprensa e até mesmo por aqueles que trabalharam nos primeiros portais de notícia.

Vivemos na nossa bolha de jornalistas e não vimos a revolução acontecer.

Terceiro ato: ainda dá tempo de recuperar o espaço perdido

Dando continuidade ao programa, os painéis fizeram uma jornada pelas atuais ferramentas de comunicação, pelas linguagens que essas ferramentas utilizam e apresentou novas estratégias. Os participantes puderam refletir sobre a evolução do jornalismo tradicional que agora dá origem a uma comunicação mais democrática e ágil, atingindo um número elevado de pessoas. E para isso o jornalista não precisa ser comandado apenas por grupos poderosos de comunicação.

Ao desmistificar termos como Lead, Conversão, Copywritting, SEO, Influenciadores Digitais, Storeytelling, CTA entre outros, os palestrantes trouxeram uma sensação de que temos muito mais oportunidades de atuação. E pasmem: até mais do que tínhamos quando a imprensa estava dividida entre poucos grupos poderosos.

Ouvi colegas afirmando entusiasmados que é possível desenvolver um jornalismo de qualidade, oferecendo conteúdos bem estruturados, dentro do ambiente digital. Essa sensação de esperança se deu no Digitalista devido a uma mistura bem afinada de profissionais, que apresentaram casos concretos de sucesso, daqueles que aceitaram o desafio de “se misturar” com profissionais de outras áreas como Marketing e Vendas.

No entanto, já vi essa transformação em outras oportunidades. Assisti jornalistas apáticos, que estavam dispostos a enterrar o jornalismo, se transformarem em “focas” entusiasmadas de novo. Dispostos a desvendar os segredos dos E-books, Cursos On-line, Vídeos-aula etc.

Quarto ato: e agora???

Com as mentes mais abertas e as oportunidades surgindo, o quarto ato é sempre marcado pela ansiedade em não saber o que fazer com tanta informação. Eu tive essa mesma reação quando participei do primeiro curso. E olha que sempre gostei das redes sociais, mantenho um blog, e trabalhei por quase 20 anos em marketing.

No entanto, a proposta dos cursos e dos encontros foi sempre essa: tirar os jornalistas da zona de conforto. Propor uma reação daqueles profissionais que sabem como ninguém pesquisar informações, checar dados, confrontar fontes e contar uma boa história. A diferença está apenas na forma.

É preciso liberar o lado empreendedor do jornalista.

Quinto ato: descer do pedestal

E por último vem a parte mais difícil. Descer do pedestal… e vestir o manto da humildade.

Fica claro que é fundamental assumir nossa arrogância quando nos achamos mais bem preparados que nossos colegas de outras áreas. É incrível a quantidade de jornalistas que não se atualizaram. É óbvio que a leitura e a pesquisa contribuem para o desenvolvimento profissional, no entanto a “cadeira da escola” é essencial para a evolução individual.

Está na hora de aceitarmos que Facebook, Instagram, Pinterest, Youtube, Linkedin (e outros canais que surgirem) são ótimas ferramentas para conteúdos de qualidade. Quem trabalha com conteúdo, precisa conhecer profundamente as redes sociais e não tem outra alternativa, precisamos praticar, postando, curtindo, comentando. Vamos perder o medo de criar a nossa própria marca na rede.

Vamos aceitar que não somos melhores em relação a quem mantém alta audiência nas redes sociais. Esses profissionais entenderam qual a melhor linguagem para atingir seus públicos. Eles merecem respeito. Podemos não concordar com suas posições ou métodos de trabalho, mas temos que respeitá-los.

Precisamos reinventar a nossa atuação profissional, aceitando que vamos errar. E para quem reinou nos grandes grupos, essa parte é a mais temida, porque ao se permitir errar, muitas vezes expomos as nossas fraquezas e medos. Mas a recompensa pode ser mais satisfação, mais propósito de vida, mais realização e no final mais remuneração.

Foto de um celular, sobre o teclado de um computador, com os ícones de diversas redes sociais
As redes sociais democratizaram o acesso às informações e abriram vários canais de divulgação de conteúdo, que podem ser utilizados pelos jornalistas

Para mim, o Primeiro Digitalista atingiu sua meta ao permitir que os jornalistas percorressem esses 5 atos com muita intensidade. Com certeza, nem todos saíram com as minhas conclusões, mas a grande maioria foi minimamente impactada.

Já consigo ver mais jornalistas que terão prazer em trabalhar com as redes sociais, nesse ambiente digital que é fascinante.

Kátia Marim Treviso é jornalista, proprietária da Zunca Press Conteúdo Digital e atuou por quase 20 anos em Marketing de Serviços. É uma entusiasta em democratizar o conteúdo de qualidade pelas redes sociais.

Observação: originalmente esse artigo foi publicado por Katia Marim Treviso, no seu perfil no Linkedin: http://bit.ly/JornalismoLinkedin

Katia Marim Treviso

Kátia Marim Treviso é jornalista de formação, trabalhou mais de 20 anos no ambiente corporativo como executiva de Marketing. Atualmente é sócia-proprietária da Zunca Press Conteúdo Digital, especializada em Marketing Digital e criadora do movimento Agite sua Essência.

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